OUT OF ROSENHEIM ( BAGDA CAFÉ – 1987)
Coloquei ontem a noite e já recebi o “aviso” de minha mulher que o filme é “ruim”. Perguntei se tinha assistido inteiro e porque era ruim, ela não sabia. Deixei passar e — como de costume — em alguns minutos ela dormia.
Eu sabia que não era um filme ruim, na verdade lembrava pouco do filme, afinal fazem mais que 34 anos que o vi e só lembrava que tinha o Jack Palance no elenco e nem lembrava bem qual era seu personagem.
Assim que o filme começa, com a doce Marianne Sagebrecht — que interpreta a protagonista Jasmin Munchgstettner — arrastando uma enorme mala em uma estrada perdida dos EUA, próxima de Las Vegas e do fim do mundo.
Ela acaba chegando em uma mistura de posto de combustível, hotel e um café, bem no meio do “nada” onde vivem algumas pessoas completamente fora da caixa, sob o “comando” de Brenda, uma mãe e avó, que vemos ser abandonada pelo marido logo no início do filme.
Jasmin chega ao lugar em meio a este caos e até então só foi sugerido que ela também havia sido abandonada pelo marido, em uma viagem de férias, pelos EUA.
Aos poucos a história começa a fazer algum sentido e os personagens são apresentados, um a um, pelo excelente diretor Percy Adlon, que também é um dos roteiristas.
A música tema do filme chama-se “Calling You” e é tocada diversas vezes, como uma espécie de tema da protagonista, um lindo blues, criado especialmente para o filme e cuja letra fala um pouco da história. Foi indicada para o Oscar, mas não venceu.
Jasmin muda o lugar, mexendo com todos os personagens, com seu jeito simples e humilde, especialmente com Brenda, que estava meio que “a beira de um ataque de nervos” e aos poucos vai mostrando que é uma pessoa do bem.
Não há vilões ou mocinhos no filme, talvez o único vilão seja o deserto inclemente, que é representado mais pela própria estrada, ferrovia ou uma caixa d´água, sempre destacada nas lindas cenas, com uma fotografia incrível. As mazelas do dia-a-dia e nossa forma errada de lidar com elas também podem ser consideradas como vilões, inclusive algumas bem simples, que as vezes elevamos a categoria de “tragédias”, sem necessidade.
Não existe propriamente uma história, exceto a que é contada, mas cada personagem tem uma história que é mais sugerida do que contada, fica a critério do espectador contar para si mesmo a história de cada personagem, inclusive a da própria Jasmim, já que nem mesmo a briga que a deixou abandonada em uma estrada no deserto é contada, temos que imaginar o que ocorreu.
O que me chamou a atenção é que vivemos uma época onde aparentemente a humanidade clama por mais integração social e um filme, com de mais de 35 anos consegue mostrar que tais mazelas já estavam bem resolvidas em 1987, portanto a insistência em lidar com elas está nos levando para erros e não acertos.
Temos um pouco de tudo: crise conjugal, homossexualismo, velhice, prostituição, sexo, filhos, segregação racial e até mesmo a questão da imigração. Porém nada é tratado além da simples sugestão, já que em nenhum momento existe necessidade de ir além de passar de forma bem leve sobre cada tema, sem entrar em suas complexidades.
É um filme que parece apenas um sonho, daqueles que se a gente acordar, volta a sonhar de novo e certamente vai fazer pensar em algo que já vivemos, difícil alguém não ter passado por pelo menos uma das sugestões.
Se já assistiu, vale ver de novo, se nunca assistiu, fique feliz por ter esta cópia, com alta qualidade e se ao começar a ver teve uma má impressão do filme, dê uma chance a você mesmo de ver uma obra prima do cinema.
O próprio título, que é uma feliz mudança em relação ao original, “Out of Rosenheim”, bem mais literal e menos poético, dá margem a diversas interpretações. Bagdá costuma ser sinônimo de diversidade, então uma parada de estrada com este nome acaba sendo bem sugestivo e o que mais tem ali é mesmo a diversidade.
O filme tem uma versão de 91 minutos, que é a que vi no cinema e uma outra com 108 minutos, que é a que vi no Prime Vídeo, sendo que mesmo não lembrando do filme, pude perceber quais foram as cenas que foram retiradas no cinema e pode crer que fazem falta, portanto recomendo assistir a versão mais completa.