Dirigido por Steven Spielberg, este filme pode ser adicionado a pequena lista de filmes épicos de qualquer cinéfilo, especialmente os que tem também os jogos de computador em seu curriculum.
Embora não esteja no top desta lista o filme é impressionante e por ´mais inusitado que pareça eu ainda não tinha assistido este filme de verdade, ou pelo menos não o tinha na memória, mal sabia o final do mesmo.
Ontem compensei esta falha, assistindo pelo streaming, para insatisfação de minha mulher, que virou para o lado, um pouco aborrecida com minha escolha. Como sabia que ela iria dormir em 3, 2, 1… deixei tocar, caso contrário assistiria em outro horário, mas algo me dizia para ver agora, já que passei por ele diversas vezes de “esnobei” como se fosse uma produção comum, o que não é.
O filme é baseado no livro de Ernest Cline, lançado em 2011 e que atraiu a atenção de Spielberg, que fez um filme fantástico e um pouco autobiográfico, já que cita quase todos seus maiores sucessos, alguns de forma bem maior do que uma simples referência, como é o caso do carro que o #1 usa no mundo virtual.
Se reconheceu o icônico De Lorean usado em “Back to the future”, parabéns, pois é ele mesmo e não veio sozinho, quando ele aparece pode-se ouvir também a música do filme original, em versão atualizada, parte de uma trilha sonora magnífica.
E este é apenas 1 dos “trocentos” easter eggs que serão vistos neste filme, na verdade ´é ovo de páscoa (easter egg) dentro de ovo de páscoa a cada cena, alguém contou e disse que são apenas 80, mas creio que quem fez esta conta comeu mosca, porque tem muito mais. O próprio logo do filme já é um baita easter egg, daqueles muito legais, que a gente fica se perguntando como não notou e sim, eu nunca tinha notado, vi porque alguém mostrou. Segue a dica…
E tem um livro novo, “Jogador #2”, vamos ficar na torcida para o Spielberg também gostar e resolver dirigir, porque com a mão deste notável diretor qualquer filme fica mais interessante.
A época que o filme indica é o ano 2045, um futuro bem distópico, onde a humanidade (pelo menos nos EUA) prefere viver em um ambiente virtual do que na realidade e inclusive o filme coloca isso como ponto principal.
O livro não sei, porque ainda não li, mas está em #1 na minha lista, se alguém quiser me dar de presente, prefiro a edição virtual que a de papel.
O sistema preferido das pessoas, chama-se Oásis e lá você pode ser quem quiser ou quem puder pagar para ser.
Oásis foi criado pelo personagem James Halliday, junto com um parceiro, mas Halliday morre e deixa dentro de seu jogo uma competição, onde quem ganhasse se tornaria sócio majoritário da empresa que controla o Oásis.
O herói é um garoto chamado Wade Watts e tenho certeza que este nome também é uma homenagem, mas ainda não encontrei quem contasse e eu mesmo procurei descobrir a referência sem sucesso.
Praticamente todos os filmes e jogos que tiveram algum significado na cultura pop, estão lá e certamente o filme mostra muito mais do que o livro, isso me parece evidente, já que descrever cada um já daria uns dois livros.
Tem história de amor, claro, o protagonista divide com uma mocinha o sucesso, embora acabe sendo ele o número 1, sem ela ele seria apenas um frustrado jogador que tentava e tentava, até que a garota lhe dá uma dica, ainda que sem saber.
É uma história bem legal, com amor e com amizades.
Os vilões são vários, tem o “boss” representado por Sorrento, um cara bem frustrado, que usa todo o poder de seu dinheiro para tentar comandar o “Oasis” e para isso cria um grupo corporativo, que usa milhares de pessoas trabalhando em regime de escravidão, na tentativa de solucionar os mistérios para ganhar o prêmio.
Quando o garoto descobre a primeira chave, Sorrento não hesita em mandar matá-lo na vida real, assim que sua assistente descobre quem ele é.
Seu braço direito é o vilão super poderoso, um jogador destes que ninguém consegue vencer e que nem aparece no mundo real, representa uma espécie de demônio, cheio de truques.
Tem também os vilõezinhos menores, como o padrasto do protagonista ou mesmo os milhares de personagens que aceitam ser avatares do mal.
Para entender as referências é preciso também ter sido jogador de videogame, especialmente a maior delas, o jogo Adventure, do Atari 2600, que muita gente jogou e nem sabia que tinha um easter egg no jogo, sendo considerado o primeiro deles.
Esse eu encontrei e nem foi por acaso, mas encontrei um ponto brilhante que nem sabia o que era e a primeira coisa que fiz foi levar ele até uma parede incomum que tinha no jogo e eu sempre imaginei que tinha algo por trás dela.
E tinha mesmo… nada menos que o nome do autor do jogo, algo que os primeiros jogos do Atari não traziam, a empresa não deixava os autores colocarem seus nomes e nem mesmo eram citados nos cartuchos. Isso mudou apenas quando parte dos programadores deixaram a empresa e fundaram a Activision, onde o nome dos programadores sempre foram destaque. Imagino que foram coisas assim que permitiram que a Atari fosse a falência e a Activision continuou, mesmo sem a Atari.
Easter Egg ou ovo-de-pascoa é algo que se esconde em um jogo, filme ou mesmo livros e fica lá até que alguém descubra ou o autor conte. É basicamente uma surpresa, que fica disfarçada em algum lugar. Muitas vezes está tão evidente que ninguém percebe ou tão escondida que certamente deve ter alguns que ninguém ainda descobriu.
E Jogador #1 tem muitos easter eggs, especialmente no filme e a cada vez que assistir você vai perceber mais, já que alguns estão apenas subentendidos, talvez na música ou em um simples efeito sonoro.
A dinâmica do filme é muito veloz, mesmo nas cenas mais tranquilas parece que algo está acontecendo e as cenas de ação são fantásticas, tem o ritmo dos melhores jogos de ação, onde se você pensar… já perdeu, precisa seguir o instinto, como em Star Wars, que é citado muitas vezes, como na cena em que um dos personagens sai de uma van e destrói um drone, usando um taco de baseball. A cena é Star Wars puro, um Jedi com sua espada laser, destruindo um drone e se você prefere Star Trek, tem também… mas esta está listada nos diversos posts sobre o filme esta que citei não encontrei em nenhum e trata-se de uma cena relativamente longa, quase 15 segundos.
As cenas de “O iluminado” são a cereja do bolo, pois além de deixarem a pista para uma das chaves dentro do enredo, fazem uma excelente sátira ao filme, com muitas cenas que só quem assistiu vai perceber e também é uma sequência bem longa.
Dá para falar horas sobre estas questões ou assistir o filme várias vezes e em cada uma perceber algo novo, mas estou mesmo com muita vontade de ler o livro, que também deve ser genial e outra experiência, pois no livro é preciso imaginar a cenas e por isso mesmo gostaria de ter lido antes, pois agora a maioria das cenas que vou “imaginar” serão as mesmas do filme, não tem como “enganar” o cérebro nisso, se ver as imagens de um filme, jamais vai ler o livro do mesmo jeito.
Não sei porque deixei este “filme de molho” tanto tempo, pois para um cara como eu é uma obra prima, em todos os sentidos e se você não gostar é porque perdeu muita coisa entre os anos 80 e a época atual, ou talvez ten ha nascido muito recentemente e neste caso fique feliz, pois terá muita coisa para descobrir, apenas vendo este filme, mesmo que na primeira vez não entenda nem metade da história.
Ri muito quando percebi que misturaram o jogo Frostbyte com Adventure, os jogos tem pouco em comum (salvo coisas que talvez seja eu que não saiba).
Entendi também as referências a um jogo que poucos conhecem, da própria Atari e que também foi um concurso, em que deveriam haver 4 jogos, mas a Atari lançou apenas 3. Era um jogo até sem graça em relação aos que já existiam, mas tinha este lance de 4 cartuchos, onde tinha que vencer em um, para ter as dicas no segundo e posteriores. Tinha livro com história em quadrinhos, desenhado por feras da DC Comics, no lugar do manual e uma campanha publicitária gigantesca, que inclusive prometia prêmios fantásticos, que ouvi dizer ser de 1 milhão de dólares, mas na verdade eram apenas 150 mil e não eram em dinheiro, mas em forma de brindes, que certamente valeriam muito mais do que o valor em dinheiro… se tivessem sido pagos.
Apenas os dois primeiros jogos da série tiveram os respectivos concursos, com poucos participantes, apesar da enorme procura, a Ataria selecionou quem poderia participar, com regras que mudavam durante o jogo.
A revista foi interrompida e nunca se soube como terminou a história.
No terceiro jogo já não houve a premiação, dizem que ela foi feita em um tornei secreto, mas se foi secreto fica difícil de provar. O jogo só podia ser adquirido por associados de um clube da Atari, não foi vendido nas lojas. Consegui um porque alguém cedeu, para a empresa na qual eu trabalhava.
E sim, eu tentava vencer a série de jogos, embora não pudesse participar oficialmente, já que era só para residentes dos EUA. Consegui sucesso nos dois primeiros, no terceiro, já monótono e praticamente uma cópia dos outros, perdi o interesse.
O último jogo da série, Air World, sequer foi lançado no mercado, teve sua produção interrompida e a série caiu no esquecimento, depois que a Atari foi vendida.
No Brasil a maior parte das pessoas nem ouviu falar deste jogo, pois quando o Atari começou a ser vendido oficialmente no pais,.
Talvez por isso, muita gente viu o filme e não entendeu nada quando o Sword Quest foi citado no filme.
Jogos que eu também nunca ouvi falar também foram citados.
Enfim, é um filme perfeito, muito bem feito, mas talvez pela exigência de conhecimentos para entende-lo não chegou a ser um sucesso comercial, então pode ser que Spielberg não se interesse em dirigir uma continuação, a partir do segundo livro, mas alguém fará e imagino que o segundo livro vá um pouco além de 2012, com jogos mais contemporâneos, fica a expectativa e este pretendo ler antes de ver o filme.
Claro que recomendo e se você não gostar não culpe o filme, culpe as coisas pelas quais se interessou nos últimos anos. Juro que está perdendo as melhores, de todos os tempos.